Uma das grandes discussões que se faz, hoje, em torno da Educação oferecida pelas escolas públicas é sobre qual o melhor método de avaliação a ser trabalhado com os estudantes. No Centro de Atenção Integral à Criança – Jorge Amado, acompanhando as determinações e diretrizes adotadas pela Secretaria da Educação do município, adota-se o método de avaliação organizado em Ciclos de Desenvolvimento Humano, que busca inserir o estudante numa turma em que os desenvolvimentos intelectuais sejam compatíveis com a idade do aluno e os conteúdos que precisam ser abordados, considerando-se a idade de cada um deles. Contudo, nem todos os professores acreditam na eficiência desse método e há os que defendem acirradamente o método da Seriação. Como a discussão é complexa, o Blog do CAIC resolveu trazê-lo a tona, colocá-lo em debate e possibilitar a reflexão.
Abaixo, transcreve-se um artigo assinado pelo professor Luiz Carlos de Menezes, publicado na coluna “Pense Nisso”, da revista “Nova Escola”, edição 199 (janeiro-fevereiro/2007).
Depois que ler o artigo, participe de nossa primeira enquete, respondendo qual método de ensino você considera mais eficiente: ciclo ou seriação. A enquete está localizada na coluna no lado direito do blog, logo abaixo do quadro de previsão do tempo para Itabuna. Contamos com o seu voto. Participe.
Série ou ciclo? Reprovação ou…
por: Luiz Carlos de Menezes
Há tempo, um intenso debate sobre o regime de promoção na escola pública divide os educadores entre partidários das séries e dos ciclos. É uma disputa que beira o emocional, em que adeptos de um dos regimes consideram o outro uma aberração só justificável por ignorância ou má fé.
Entre os defensores das séries, muitos tratam os ciclos como uma farsa, referem-se à promoção continuada como “aprovação automática” e a responsabilizam por fomentar indolência e indisciplina ao retirar autoridade do professor. Chegam a dizer que os ciclos são um pretexto para encobrir o mau desempenho escolar e diplomar analfabetos.
Entre os que querem os ciclos, as séries surgem como uma opção conservadora e autoritária, pois encaram a reprovação ao fim de cada ano como uma punição aos alunos pela má Educação de que são vítimas. Dizem também que um pretenso rigor avaliativo leva a múltiplas repetências e ao abandono da escola, contribuindo para a exclusão social.
A quem dar razão? Talvez um bom começo seja aceitar as críticas justas de ambas as partes, ou seja:
- É desonesto diplomar quem não recebeu uma formação essencial, o que prejudica o jovem e engana a sociedade, que paga por serviço não realizado.
- É perverso punir com repetência alunos mal preparados para prescrever no ano seguinte o mesmo tratamento ineficaz do ano anterior.
Então nenhum regime serve? Ao contrário, ciclos ou séries são ambos defensáveis se adotados com base em um projeto educativo adequado ao meio social em que a escola atua e às suas condições de trabalho. Em qualquer um dos regimes, contudo, a chave é a avaliação do aprendizado. Ela é essencial não para “definir quem passa”, mas para adequar o ensino, sabendo que:
- Todos podem aprender, mesmo crianças em condições sociais difíceis ou com limitações pessoais severas.
- Crianças que não respondem a um processo educativo devem receber outro, nunca a repetição do mesmo.
- Se as avaliações apontam que desempenhos insuficientes não são excessão, esse diagnóstico reprova a escola, não os alunos.
Há escolas ruins nos dois regimes, umas reprovando em massa, outras reprovando em massa, por displicência ou “por decreto”. Há boas escolas seriadas ou de ciclos, umas e outras promovendo quase todos os alunos. Os ciclos têm se mostrado mais apropriados para abrigar a heterogeneidade na condição e no ritmo de aprendizagem dos estudantes, enquanto as séries podem garantir mais cadência para grupos mais homogêneos.
O debate sobre qual projeto educativo é mais adequado às circunstâncias deve envolver o regime de promoção – por exemplo, a opção pelos ciclos no início do Ensino Fundamental serve à meta de minimizar diferenças socioculturais entre alunos que cursaram (ou não) a pré-escola. Assim, evita-se a acomodação a baixos desempenhos com acompanhamento constante da aprendizagem, garantindo frequentes adequações do ensino para que promoção sempre corresponda a aprendizado. Adotadas as séries, evita-se o uso coercitivo da reprovação pelo emprego de reforços positivos e por atenção especial aos mal avaliados.
O que não se pode fazer é ignorar o projeto educativo, desmoralizar as avaliações, esconder as deficiências do ensino ou defender a exclusão por repetência usando como pretexto a disputa entre ciclos e séries.
LUIZ CARLOS DE MENEZES (pensenisso@abril.com.br) é físico e educador da Universidade de São Paulo e acredita que a avaliação é um instrumento de aprendizagem, não de punição ou exclusão.
Um comentário:
Parabéns, pessoal do CAIC, por trazer a tona a discussao sobre os metodos adotados pela nossa secretaria, nem sempre eficientes como se espera. Sonho com o dia em que a seriação voltará para a rede municipal. AntÔnio.
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