Primeira Parte
I – Com a intenção de Ler
1. A Escolha do Texto
Leitura pressupõe busca e informação. Por isso, , é importante escolher bem o texto para ler. Para que o leitor se informe é necessário que haja entendimento daquilo que ele lê. Há textos cujo assunto é inteiramente inteligível ao leitor, como os de jornais, revistas não especializadas etc. Há outros, porém, que a pessoa tenta ler, já sabendo, a princípio, que não entende completamente o seu conteúdo. Neste último caso, o leitor deve estar predisposto a superar essa dificuldade.
A desigualdade de entendimento se manifesta principalmente quando se tem de “mergulhar” numa leitura criteriosa de texto técnico. Ocorre que, ou se lê um texto dessa natureza como se lê um periódico distrativamente, ou se tenta ler visando a um entendimento, sem saber, muitas vezes, como proceder para não perder tempo, sem saber a que cânones obedecer.
2. Tipos de Leitura
A intenção de ler bem o texto técnico conduz o leitor a dois tipos de leitura:
2.1 Leitura informativa
Ao se fazer a leitura informativa busca-se respostas a questões específicas. Para obtê-las, deve-se:
2.1.1. FAZER LEITURA SELETIVA
Esse tipo se efetiva no momento em que o leitor sabe escolher as ideias que complementam o ponto de vista do autor. Para isso é preciso:
a) Identificar, dentro de cada parágrafo, a palavra chave, pois é em torno dela que o autor normalmente desenvolve a ideia principal. A palavra-chave se situa na sentença tópico, que, quase sempre, é a primeira frase do parágrafo, como, por exemplo:
O reflorestamento tornou-se uma atividade em expansão no país, servida por pesquisas minuciosas e alta tecnologia. Duas empresas paulistas exemplificam bem até que ponto chegou o desenvolvimento no setor. Uma delas exporta, para 40 países, cerca de 15 milhões de dólares anuais em chapas e fibra prensada para os Estados Unidos e Europa. O faturamento bruto das indústrias que utiizam madeira (predominantemente oriunda de reflorestamentos) como matéria prima chegou a um terço do faturamento bruto da indústria automobilística. Apenas uma empresa plantou, até 1979, 250 milhões de eucaliptos.
Neste parágrafo, a palavra chave é “reflorestamento”, porque é ela que constitui a ideia do autor e serve de base para que se derive um grupo vocabular em que todas as outras unidades estejam em relação de inclusão com ela. Veja no esquema abaixo, como as ideias foram organizadas:
Reflorestamento funciona como núcleo do sujeito da sentença tópico, que é:
As outras unidades vocabulares, de acordo com o sentido que possuem no texto, convergem para o reflorestamento, formando, assim, um conjunto vocabular que, esquematicamente, sintetiza as ideias ali expostas. Para melhor compreender as noções de sentença tópico, lea GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. Rio: FGV, 1980, terceira parte, cap. I.
a.a) Selecionar, uma vez identificada a palavra chave principal do parágrafo, as palavras chaves secundárias, que são as que estruturam as frases que fundamentam a sentença tópico e desenvolvem o parágrafo, como no exemplo seguinte:
Um livro é um artefato físico produzido apenas numa sociedade civilizada. As implicações dessa afirmação incluem muitos aspectos históricos. Antes que um autor possa escrever, precisa possuir linguagem e um sistema gráfico para registrá-lo. Nenhuma dessas coisas coisas é invenção sua. Ambas, como já notamos, não passam de convenções arbitrárias da cultura; ambas chegaram às suas formas como resultado de uma longa evolução. Do mesmo modo, a forma do livro através das épocas e os vários métodos de sua fabricação são problemas históricos básicos para a ciência da biblioteconomia. Aqui devem considerar-se não apenas os materiais físicos que foram usados para a recepção dos registros gráficos, mas seus reflexos sobre a utilidade funcional. Tijolos de barro, peles curtidas e papiro, cada um apresenta uma diferente combinação de economia, facilidade de transporte e durabilidade. A lousa, o rolo, e o códex divergem muito em suas facilidades de fornecer referências. O crescimento dos aspectos auxiliares do leitor, como lombada da capa, página título, índice de conteúdo, paginação e índice alfabético resultam de um longo processo evolutivo.
Neste parágrafo, a palavra chave é “livro” e as palavras secundárias são: autor, escrever, linguagem, sistema gráfico.
Observe-se que a escolha vocabular não se faz aleatoriamente, mas justificada por uma seleção vocabular que dá apoio à ideia principal do autor. Um parágrafo que apresente esta unidade, esta coerência, diz-se ser um parágrafo didático, com sentença tópico e desenvolvimento.
a.b) Selecionar, na sequência do texto, as sentenças tópicos que constituem, de fato, base de informação de cada parágrafo e que, depois de escolhidas, sublinhadas ou destacadas, formam o resultado do texto:
PSICÓLOGA NÃO VÊ RELAÇÃO ENTRE A VIOLÊNCIA E A TV
Pesquisa da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora revelou que não se pode relacionar, como é feito, a televisão e o rádio com a violência. Segundo alguns, estes dois meios de comunicação seriam propagadores e incentivadores da violência. De acordo com a pesquisa, elaborada junto a menores da FEBEM daquela cidade mineira, 68% dos delinquentes juvenis nunca haviam assistido a um programa seja de rádio, seja de televisão – afirmou Goldberg, especialista em pesquisas junto à infância e adolescência.
A gênese da violência urbana, de acordo com o cientista, localiza-se entre as diferenças que caracterizam o meio rural e o urbano. “Frequentemente, ocorre um choque nos hábitos dos migrantes no seu contato com a cidade. Mudam-se as suas referências culturais e o seu comportamento. O choque é, também, recíproco. O habitante da cidade se sente ameaçado, compelido a competir mais onde a concorrência já é acirrada, gerando medo, insatisfação e frustração”, diz o psicógologo.
A desinformação cultural é a grande responsável pela explosão da violência nas cidades, segundo Goldberg. “A sociedade moderna exige do habitante da metrópole alta dose de informação – desconhecida do migrante. Este passa a buscá-la, mas a sociedade não permite um acesso fácil a ela. Isto gera frustração, num primeiro momento que, acumulado, redunda numa revolta”, argumenta o pesquisador.
Em seu entender, a problemática da violência e da desinformação decorrem da estrutura de ensino brasileiro. De acordo com dados de uma pesquisa que efetuou em Juiz de Fora, 75% dos estudantes primários que completavam um ano de estudo no grupo central da cidade não tinham sequer de escrever o próprio nome.
Para compreender bem o conceito de palavras chaves, observe o texto e procure identificar onde se inicia e onde termina a sentença tópico de cada palavra. Após essa análise, você perceberá que a identificação dessas sentenças servirão como suporte para se estruturar um resumo.
2.1.2. FAZER LEITURA CRÍTICA
A leitura crítica exige do leitor uma visão abrangente em torno do assunto que está sendo focalizado. É necessário, pois, que se faça uma leitura prévia do material a ser analisado para, então, estabelecer-se diferença entre a sucessão das ideias principais, contidas nas sentenças tópicos.
Ler criticamente significa reconhecer a pertinência dos conteúdos apresentados. tendo como base o ponto de vista do autor e a relação entre este e as sentenças tópicos. Essa pertinência é que permite estabelecer-se uma hierarquia entre a ideia mais abrangente e as que subsidiam.
O texto seguinte não apresenta divisão paragráfica, contudo verifica-se que a unidade formal que ele apresenta não corresponde à unidade de um parágrafo didático, já que há uma série de ideias acumuladas em um único bloco, que devem ser reestruturadas, tanto pela densidade de informação, quanto pela hierarquia em que devem ser apresentadas.
Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa, dito O), escultor e arquiteto brasileiro (Ouro Preto MG c. 1730 id. 1814). Filho natural do mestre de obras português Manuel Francisco Lisboa, então considerado o primeiro arquiteto da província. Formação artística e técnica no canteiro das obras do pai; aprendizado com o abridor de cunhos João Gomes Batista e provavelmente com José Coelho de Noronha, que se distinguia nas obras de escultura e talha em igrejas mineiras. Na madureza, começou a sofrer de uma enfermidade que, aos poucos, o foi inutilizando e deformando, e cuja natureza ainda é objeto de controvérsias entre os especialistas, havendo quem diga tratar-se de troboangeite obliterante (ulceração gangrenosa das mãos e dos pés). Tendo perdido os artelhos, o Aleijadinho passou a ser carregado, só conseguindo andar de joelhos com dispositivos de couro confeccionados sob sua orientação; com os dedos das mãos perdidos, uns, quase sem movimento, os outros, mandava que lhe amarrassem diariamente às mãoes o martelo e o cinzel para poder esculpir. Em 1800, firmou Antônio Francisco Lisboa o contrato para a execução de Os doze profetas do adro da igreja de Bom Jesus de Matosinhos, depois de haver realizado em cedro as sessenta e seis figuras que compõem os Passos da Via Crucis, no mesmo Santuário, mais tarde encarnadas pelos pintores Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro (essas figuras estiveram até 1957 sob grosseiras pinturas adicionais, sendo então reconstituídas nas cores originais pelo Serviço do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional). A obra de Aleijadinho pode ser dividida em duas fases, antes e depois de atacá-lo a terrível doença: na fase sã, a deformação das imagens é de caráter plástico, predominando em suas composições o equilíbrio, serenidade e magistral clareza, ao passo que, na segunda fase (Congonhas), as deformações e toda obra assumem um caráter expressionista. Consta que, nessa última fase, Antônio Francisco Lisboa segregou-se da sociedade, mantendo-se em contato com apenas dois escravos e ajudantes; só andava na rua altas horas da noite ou da madrugada, montado a cavalo, coberto com ampla capa e chapéu desabado. Durante o trabalho, fazia-se ocultar por uma tenda, não permitindo a aproximação de estranhos. Morreu isolado e quase esquecido, conquanto os contemporâneos lhe pressentissem talvez os dotes geniais e a capacidade criadora. No dizer de Manuel Bandeira, “o diminutivo de Aleijadinho é signficativo de pura compaixão e meiguice brasileira. O homem a que ele se aplicou nada tinha de fraco nem pequeno: era, em sua deformidade, formidável. (…) Toda a sua obra de arquiteto e escultor é de uma saúde, de uma robustez, de uma dignidade a que não atingiu entre nós nenhum outro artista plástico”. A partir de 1812, Antônio Francisco ficou impossibilitado de trabalhar, passando seus dois últimos anos de vida entrevado e cego, sobre um pequeno estrado em casa de sua nora. Depois de sua morte, Aleijadinho foi esquecido por mais de quarenta anos, até que Rodrigo Bretas lhe escrevesse a biografia, publicada em 1858, voltando a ser louvado somente após o movimento de afirmação dos valores nacionais provocado pela Semana de Arte Moderna (1922). Sua obra, sempre caracterizada por inspiração dinâmica e barroca, é extensa…
Conforme já se disse anteriormente, este texto não apresenta divisão paragráfica. Para perceber a natureza crítica do mesmo, o leitor deve fazer essa divisão, tomando por base uma sentença tópico que norteará cada bloco de ideias em que se venha a dividir o texto. Para tal, convém ter em mente que saber diferenciar as ideias entre si é fundamental.
Diferenciar as ideias significa hierarquizar os assuntos pela ordem de importância, analisar as ligações que os unem e ordenar os fatos ou ações ao longo de um raciocínio.
Para diferenciarem-se as ideias, é preciso que se conheçam as seguintes etapas:
a) primeiro, distinguem-se as ideias principais das secundárias, depois diferenciam-se as ideias secundárias entre si, finalmente, classificam-se os pormenores que servem de apoio às ideias secundárias;
b) analisam-se as ligações que unem duas ideias sucessivas, distinguindo as ideias paralelas, as opostas, as coordenadas e as subordinadas entre si;
c) ordena-se a sequencia das ideias, observando-se o mecanismo lógico a fim de perceber os mecanismos sutis do pensamento do autor.
Assim, para que o texto o seu teor crítico seja identificado, deve-se passar, desde já, por dois exercícios básicos:
a) dividi-lo em dois parágrafos;
b) dar coerência ao texto, escrevendo a ordem lógica em que cada parágrafo deve ocorrer, tanto o primeiro, quanto o segundo;
c) após construir os dois parágrafos, considerando-os como pequenos textos, dar um título expressivo a cada um deles. Lembre-se de que um título expressivo é o que faz com que o leitor sinta vontade de ler o texto.
2.1 Leitura interpretativa
A leitura interpretativa requer total domínio da leitura informativa. Para que se faça leitura interpretativa, é necessário que se reconheçam determinadas capacidades de conhecimento. Este é o tema que o Blog do CAIC irá publicar na próxima semana.
Na próxima segunda-feira, 07 de maio de 2012: O Blog do CAIC iniciará a segunda parte das dicas sobre Como Ler, Entender e Redigir um Texto. Nesta parte, mostrar-se-á que, o blog irá fazer um aprofundamento maior sobre a leitura de um texto e o seu entendimento.
Fonte: FAULSTICH, Enilde L. de J.Como Ler, Entender e Redigir um Texto. Petrópolis: Vozes, 1988. Texto parcialmente modificado e atualizado especialmente para o Blog do CAIC Jorge Amado. Por: Eric Thadeu Nascimento Souza.
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