Ainda sob os reflexos das comemorações dos 100 anos da cidade de Itabuna, as coordenadoras pedagógicas Maria das Graças Viana e Paula Cátia Oliveira inovaram com uma ação extremamente positiva entre os professores dos Ciclos da Pré-adolescência e Adolescência. A ação inovou justamente porque, geralmente, quando se trata de realização de atividades, o mais comum é que os professores solicitem aos seus estudantes que coloquem a “mão na massa”.
Nesse caso, o que surpreendeu foi justamente o fato de que os “fazedores artísticos” do momento foram, justamente, eles e elas: os professores e as professoras. A proposta era a de que, cada um, ao seu modo, colocasse no papel o melhor (ou o pior) de suas Memórias Grapiúnas: fatos, acontecimentos, lembranças pessoais que marcaram a vida suas vidas dentro da cidade de Itabuna.
O resultado dessa “brincadeira” se transformou no Projeto “Minhas Memórias Grapiúnas”, realizado nos dias 20 e 29 de julho, e também no dia 04 de agosto, dentro da Formação em Contexto dos professores do CAD.
Na formação, os professores tiveram seus primeiros contatos com o novo Hino de Itabuna e fizeram a leitura do texto “Os Primeiros Desbravadores”. Nas atividades práticas, os professores produziram textos sobre suas recordações, criaram poesias coletivas, produziram colagens em cartazes com o tema “Itabuna Auto-sustentável” e promoveram a exposição com tudo o que foi feito.
Os trabalhos contaram com a valorosa contribuição e supervisão do Professor Odilon Pinto. Abaixo, apresentamos alguns textos. Destacamos que, a pedido dos professores, identificamos apenas o texto que foi produzido pelo professor Odilon Pinto. Os demais textos foram transcritos, mas suas autorias não foram reveladas. Segue o material.
“Minhas Memórias Grapiúnas”
Quando cheguei a Itabuna, vinha do Maranhão, onde trabalhei no Vale do Pindaré, com os plantadores de arroz. Lá se passava fome, que era aliviada após a sopa de arroz, na época das pescarias, nas épocas de caçada e com palmito de babaçu. No Sul da Bahia, vi admirado que os trabalhadores tinham o que comer até quarta ou quinta-feira, quando acabava a feira. Mesmo assim as famílias dos trabalhadores se alimentavam com banana e jaca. No sábado, todos recebiam dinheiro para ir fazer a feira. Me admirei porque, no Maranhão, quase não corria dinheiro. Trabalhei em uma fazenda perto de Panelinha, de onde vim a pé para Itabuna, quando a entrada não era de asfalto. Cheguei a Itabuna sem dinheiro, sem documento e com a Polícia Federal em meu encalço.
PINTO, Odilon.
Lembro-me das muitas tardes que passamos às margens do Rio Cachoeira, próximo à Nestlé. Minha avó ia lavar roupa e pescar. Eu ficava brincando e tomando banho com as colegas. Não havia sujeira, tudo era muito lindo. Foram os momentos mais marcantes da infância. Infelizmente o filho de uma vizinha morreu afogado, deixando todos muito tristes e as brincadeiras perderam a graça, o que era diversão virou pavor.
Os momentos da minha infância estão permeados pela presença do Rio Cachoeira. Nascida no bairro Jardim Vitória e tendo residido lá até os sete anos, vivenciei muitos momentos de lazer nas margens do Cachoeira. Um tio querido quase todos os dias passava em minha casa, com sua bicicleta com balaio preso no bagageiro e nos levava para tomar banho de dentro do tal balaio. Era uma festa para mim e minha irmã ser carregadas daquela forma e ir curtir o rio àquela época, ainda sem a poluição terrível que vemos hoje. Ainda está bem guardado em minha memória as enchentes que assisti, as brincadeiras com os primos às sombras das árvores do bairro.
Ah! Rio Cachoeira!… Das muitas memórias grapiúnas, a que mais marcou-me profunda e sinistramente foi em 1981, quando da enchente que presenciei; a primeira e, espero, que seja a última…
Estava eu no Lar Fabiano e, subindo o murinho da varanda de casa, via as casas do Gogó e da Rua José Oduque, com água até o meio das paredes. Pânico total!!!
Perguntava ao marido:
- Com tanta cidade para a gente morar e você escolhe logo essa que tem enchente?…
Não conseguia ficar tranquila e nem passar tranquilidade.
O marido, que na época trabalhava em Ilhéus, chegou um dia todo molhado e com os sapatos nas mãos.
Imaginem a cena!!!
Mas, apesar de tudo, amo essa cidade que nos acolheu e nos acolhe até hoje.
Fico feliz por estar presente nos seus 100 anos de existência e poder participar dessa história, como cidadã grapiúna, de coração.
Apesar de ter nascido em Camacã e ter perdido minha mãe biológica com apenas um ano de idade fui morar com uma tia chamada Enedina na cidade São João do Paraíso, que por motivo financeiro não pôde me criar; daí, então, fui trazida para Itabuna com 2 anos para ser entregue a tia Elvira a qual me criou.
E lembro-me muito bem dessa fala:
- Ela só ficará dentro de casa enquanto alcançar abrir a porta da frente de casa.
Dito e certo, adorava brincar na rua; especificamente, na Rua Monte Alto, na qual eu sempre morei: bandeirinha, baleado, roda, cair no poço e garrafão eram minhas brincadeiras preferidas.
Como eu gostava só um pouquinho de rua, por exemplo saía às 13h e retornava às 18h e só por isso apanhava de ficar marcada. No momento prometia não sair mais para a rua, mas não tinha jeito, eu precisava sair, igual um dia em que eu avistava a rua pela janela e resolvi pular apenas para correr na rua, depois que corri, voltei para avistar a minha querida rua.
Nossa!!! Aprontei muito nessa cidade… Sempre fui uma criança independente e totalmente ativa. Brincava muito na rua e nunca esperava por ninguém para me divertir. Lembro-me que a prefeitura era onde é a FTC hoje, andava muito de patins com minhas amigas, tinha uma área maravilhosa para tal esporte. Aproveitei bastante…
O Cine Itabuna já me conhecia, não perdia um filme. E o teatro que havia lá perto do Meira (esqueci o nome) era muito legal. E as brincadeiras na minha antiga rua no Pontalzinho, só vivia “ralada” e com pancada nas pernas. Lá, brinquei de gude, pega-pega, bandeirinha…
Nossa! Passaria a manhã falando do que já aprontei nessa terra.
Itabuna tem sido de grande importância na minha vida. Foi aqui que conheci o meu marido, tive um filho maravilhoso, me formei e consegui empregos.
Entretanto, houve uma época em que trabalhei na Secretaria de Segurança, foi um momento muito especial, pois foi o meu primeiro emprego. Lá, tive várias experiência, conheci colegas novas. O trabalho em si foi de muita relevância para o meu crescimento profissional.
De lá para cá, houve grandes mudanças na minha vida profissional.
Quando estava estudando não tinha certeza sobre o que queria ser, mas como minha mãe já trabalhava na área de Educação, ela foi a minha referência para seguir na profissão de professora.
Enfim, percebi o quanto me identifiquei com a profissão. E estou até hoje, não me vejo fora dela.
Das boas recordações que tenho de Itabuna, lembro-me que ainda criança, divertimento era o que não faltava. A moça que tomava conta de mim, toda sexta-feira, levava os filhos dela para tomar banho no Rio Cachoeira e daí eu ia junto também. Lembro que a água era bem limpinha, que dava para ver as pedrinhas no fundo e tinha também várias mulheres lavando roupa. (Tempos bons que não voltam mais).
Lembro ainda das brincadeiras de rua (pega-pega, caiu no poço, bandeirinha…), que era tudo inocente, muito diferente de hoje.
Lembro-me, quando criança, brincava de pega-pega e bandeirinha na quadra da escola CSU, estudava no Félix Mendonça e na semana da criança, íamos a semana inteira para as atividades lúdicas.
Mais legal ainda era quando saímos em grupos pelas ruas acompanhados pelos professores.
Praça Salomão Dantas.
Minha infância, subindo no pé de amendoeira.
Brincando de bicicleta.
Infância feliz.
Lembro-me bem de uma infância tranquila, brincando descalça no meio da rua, bem a vontade nos quintais dos vizinhos, subindo em pés de árvores frutíferas.
Primeira neta de uma família de dono de roça, fui muito paparicada, sendo criada com meus avós.
Muito feliz…
Vim morar em Itabuna, pois morava em Salvador.
Um dia, saí de casa com um amigo para passear, porém esqueci de avisar em casa (inocência de criança), só não apanhei por causa de minha tia.
Passei no vestibular no curso e na universidade que sempre quis.
Consegui o meu primeiro emprego.
Conheci o amor da minha vida, o meu futuro esposo.
Lembro-me como hoje, acordava bem cedinho, me arrumava para não perder o ônibus, chamado de “Kenedy”. Ah! Esse sim era o ônibus, onde a “galera” estava toda reunida, cada um que passava pela catraca sentava com sua turma. Ao chegar no nosso destino, chego na minha escola que eu tanto amei. Ação Fraternal de Itabuna, escola onde eu cresci e conclui… foram anos de muitas estripulias, mas foram anos marcantes. A galeria até hoje na memória… Karine, Laís, Lorena; Cleto, Adriano, Bruno… essas figuras não saem da história.
Igreja Santa Maria Goretti.
Igreja São José. Eu com minha tia no curso de Flores.
Cemitério Campo Santo. Enterro de uma velhinha que amamos muito.
Política de Itabuna – a vitória de Alcântara. Alcântara e Pinheirinho (candidatos a prefeito de Itabuna). Numa das caminhadas de Alcântara nos bairros, visita ao meu bairro, gritei, esperneei, cantei a vitória de Alcântara. Emocionado, Alcântara me pegou nos braços e subiu em direção a Av. Itajuípe. Ao voltar, minha mãe desesperada sem saber o meu paradeiro me deu uma surra, desabafando toda preocupação com o meu sumiço.
A morte de Alcântara – Chorei, me desesperei, uma imensa fila para me despedir do meu prefeito querido.
O desabamento do muro do cemitério, pela aglomeração de gente na despedida do nosso Alcântara.
O banho de rio quando ia visitar meu avô paterno que morava nas proximidades do Rio Cachoeira no Bairro da Conceição. Era um dos dias mais felizes da minha infância. Água limpinha, transparente… Que saudades!
Quando eu tinha 13 anos, vim para Itabuna, com os irmãos da Igreja em Conquista, cheguei a noite, e um irmão de Itabuna estava na rodoviária esperando a gente, sentei atrás dele no carro.
Fomos para a casa da mãe dele e lá dividimos, cada qual foi para um quarto e eu fiquei no quarto dele sem saber.
Olha só a peça que a vida me pegou. Após 7 anos, vim para fazer faculdade aqui e acabei namorando e casando com ele, meu amor.
Um comentário:
Valeu Eric, pela colaboração e dedicação aos projetos desenvolvido na nossa Escola CAIC você e um agente promovedor do nosso trabalho.
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