O bullying se transforma em tema de discussão nacional e faz com que pais, professores e estudantes se perguntem o que fazer para prevenir e enfrentar esse problema.
Cascudos na hora do recreio, apelidos irônicos, musiquinhas debochadas, exclusão de atividades físicas ou o velho papel colado nas costas. O que era até pouco tempo visto por boa parte das pessoas apenas como uma mera brincadeira de estudantes começou finalmente a ser tratado como coisa séria. E tem até nome oficial: bullying.
Conceitualmente, bullying refere-se a uma situação na qual uma pessoa é agredida física ou verbalmente de forma repetida e intencional por parte de uma ou mais pessoas. O termo vem sendo aplicado para situações ocorridas com crianças e adolescentes dentro do ambiente escolar e possui origem na palavra inglesa "bully", que significa "valentão", "brigão". Como verbo, significa amedrontar, oprimir ou intimidar.
Segundo reportagem sobre o tema publicada recentemente pela revista Nova Escola, o primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Depois de pesquisar tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater. Enquanto isso, em 2008, uma pesquisa realizada em seis estados brasileiros apontou que a situação por aqui não era muito melhor: 70% de 12 mil alunos consultados afirmaram ter sido vítima de algum tipo de violência escolar.
Apesar dos números, as práticas de bullying no país foram vistas por muito tempo como inofensivas ou simplesmente ignoradas por pais, professores e gestores escolares. Quando o problema era combatido, a estratégia adotada quase nunca era a mais apropriada. O agressor sofria coerções formais (normalmente uma advertência) que resolviam a situação apenas de maneira superficial, ao mesmo tempo em que pouco se conhecia sobre os efeitos nocivos que essas ações tinham na vítima do bullying.
Nos últimos anos, porém, esse quadro parece ter mudado bastante. E o que pode ter ajudado a chamar atenção para o tema são as práticas de bullying na internet, o chamado cyberbullying. Com o alastramento de redes sociais e programas de comunicação instantânea, mensagens com imagens e comentários depreciativos tornaram-se mais visíveis. Na internet, os agressores sentem-se mais fortes, mais poderosos, ao passo que as vítimas começam a ser humilhadas para além dos limites da escola. A nova visibilidade do bullying começou então a chamar a atenção dos especialistas. Hoje, há diversos livros publicados sobre o tema, muitos dos quais discutem práticas de bullying que partem do próprio professor. Revistas especializadas fazem reportagens detalhadas sobre o assunto, que também é tema de filmes e palestras na escola. Atualmente, a própria TV Globo encampou a idéia de combate ao bullying ao exibir em sua grade de programação chamadas diárias sobre a questão.
Isa Cristina Lopes, pedagoga, professora de prática de ensino da Universidade Cândido Mendes e coordenadora pedagógica da Fundação Roberto Marinho, conversou com o Café História e faz um alerta para tipos de bullyings que nem sempre são tão visíveis:
- Embora seja relativamente fácil encontrarmos índices mais precisos sobre agressões físicas entre estudantes na escola, o mesmo não ocorre com a agressão moral: ainda que sejam mais recorrentes relatos dessa natureza na escola - apelidos de toda ordem, deboches em torno de características físicas, entre outros - seus índices são menos precisos porque parece haver uma certa tendência dos adultos em naturalizarem este tipo de evento, entendendo-o como "coisa de criança ou de jovem, que faz parte da idade" ou "quanto mais você (aqui me refiro à vítima) der bola vão continuar a te chamar disso ou daquilo". Felizmente o assunto tem estado na pauta do dia e há boas iniciativas já com sucesso!
E completa:
- Certamente assédio físico e/ou moral pode imprimir marcas negativas no jovem ou na criança, trazendo impactos no seu desenvolvimento emocional e cognitivo: baixa auto-estima, medo, insegurança, dúvidas sobre a sua própria imagem e de modo mais intenso, fobias e sintomas físicos. E os reflexos sobre o processo de aprendizagem, sem dúvida, também fica comprometido.
Perguntada ainda pelo Café História sobre o que professores e escolas podem fazer para evitar a prático do bullying, Isa Cristina Lopes afirma:
- Penso que atitude que devemos aos alunos, como educadores, é desnaturalizar situações dessa natureza e tratá-las, de fato, como algo totalmente indesejável em quaisquer que sejam os contextos. Paralelamente, adotarmos regras impeditivas na escola e planejarmos estratégias de prevenção e conscientização de modo a criar, pelo menos na escola, um ambiente seguro e assertivo. Os reflexos destas ações, penso, poderão se refletir no entorno da escola, e aí estaremos contribuindo para um ambiente social mais saudável e adequado para todos.
E você, leitor do Café História, já foi vítima ou testemunha de práticas de bullying? O que você pensa sobre o tema? Não deixe de participar desta importante discussão. O Café indica uma reportagem completa sobre o bullying escolar feita pela revista Nova Escola.
Também convidamos você para participar do fórum: Como lidar com a questão do bullying escolar? Você já presenciou situações de bullying?
Por fim, não deixe de participar da nova enquete, que também aborda o tema, e de assistir o vídeo sobre bullying produzido pelo Jornal Nacional. É o debate aberto e dinâmico que nos faz produzir o conhecimento necessário a combater este que é um dos grandes problemas escolares de nosso tempo.
Direto da rede social “Café História by Ning”, em 12/07/2010.
Imagem no topo do blog: cartaz da campanha anti-bullying criada no Colégio Notre Dame, no Rio de Janeiro. (Matéria: clique aqui).
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